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  • psimarcosmoraes

Autonomia, Comunicação e Transformação.

Esse é o um de três que fala sobre o tema: Autonomia e Comunicação como um processo de transformação pessoal e coletiva.


Desenvolver a autonomia é um processo de autoconhecimento e libertação pessoal que nos ajuda a sentir mais segurança e confiança em nossas escolhas e ações. Habilidades essas que são fundamentais para a construção da condição comunicacional do Ser Humano. Infelizmente, acontece que muitas vezes nos encontramos em situações ameaçadoras que cerceiam as nossas vontades, quando não, a nossa própria existência. E, para isso, eu não preciso nem dar exemplos.


Logo, fica mais que evidente a necessidade de que temos de desenvolver a autonomia, e assim, a comunicação para que haja uma transformação nas nossas vidas. Mas, para que isso ocorra, precisamos entender primeiro o que é a autonomia?


O que é a autonomia?


A autonomia é um substantivo femino que tem sua origem na Grécia antiga.


Sendo composta por duas palavras distintas: αὐτο- ("eu") + νόμος ("lei").


É interessante pensar que ao revisar a sua provável origem histórica, auto é uma palavra que remete a si mesmo, lembremos de automóvel, autocontrole, autogoverno ou autoestima:


  • Automóvel como um adjetivo significa: Aquele que se movimenta com o auxílio de um motor; que se move por conta própria, sem interferência exterior.


  • Autocontrole: Controle de si mesmo; domínio dos próprios impulsos, emoções e paixões; autodomínio, tenência.


  • Autogoverno: Ato ou efeito de autogovernar-se; autocontrole, autodisciplina.


  • Autoestima: Sentimento de satisfação e contentamento pessoal que experimenta o indivíduo que conhece suas reais qualidades, habilidades e potencialidades positivas e que, portanto, está consciente de seu valor, sente-se seguro com seu modo de ser e confiante em seu desempenho.


Assim sendo, a palavra auto aparece como “por conta própria”, “sem interferência exterior”.


Passemos para a palavra nomia, um sufixo que como vimos também é de origem Grega e significa: um sistema de regras, leis ou conhecimento sobre um corpo de um determinado campo; distribuição, arranjo, gerenciamento.


Em português não temos a palavra nomia. Então, vamos tentar encontrá-la em outras palavras, da mesma forma que fizemos com a palavra auto. Temos astronomia, economia e agronomia.


  • Astronomia - Ciência que estuda a constituição e o movimento dos astros, suas posições relativas e as leis dos seus movimentos.


  • Economia - Ciência que estuda os fenômenos de produção, distribuição e consumo de bens e serviços, com o intuito de promover o bem-estar da comunidade; ciências econômicas


  • Agronomia - Ciência que tem por objetivo o estudo do solo e da cultura dos campos.


É interessante perceber que mesmo falando sobre o sufixo “nomia” a palavra “Ciência” aparece nos três, o significado de ciência de acordo com o dicionário é: Conhecimento sistematizado como campo de estudo.


Ao observarmos o dicionário michaelis online em busca da palavra autonomia é possível observar que existem várias colocações para o termo. Aqui, iremos trabalhar com o conceito que abrange a autonomia como um todo.


Autonomia é a capacidade de autogovernar-se, de dirigir-se por suas próprias leis ou vontade própria; soberania. Para esclarecer melhor, irei expor alguns significados de “governo”:


  • Reger ou dirigir o procedimento ou o comportamento de algo ou de alguém

  • Proceder de modo correto; não errar

  • Dirigir o próprio comportamento; regular-se

  • - e o meu favorito - Conduzir uma embarcação a um destino específico, mantendo-a sob controle


Então, a autonomia seria a capacidade de conduzir o próprio comportamento, de maneira correta ou da melhor forma possível, com um propósito específico. E se pegarmos a partir da sua etimologia. A autonomia é a capacidade de viver de acordo com as próprias leis. Todavia, você não é a única pessoa no mundo e assim sendo, como diria Sartre: “O inferno do EU é o OUTRO”.


Autonomia, leis e o Outro


É justamente nesse ponto que a nossa história começa. Ao passo que queremos ser mais autônomos - viver de acordo com as nossas próprias leis -, nos deparamos com outras pessoas que também querem exercer as suas próprias leis. Quando bebês, normalmente, nossos pais possuem as leis que serão impostas ou não sobre nós. Quando vamos para a escola existe a lei da instituição, a lei do corpo docente, a lei da turma e dos colegas, isso não acaba na universidade, tão pouco nos relacionamentos íntimos ou no mercado de trabalho.Podemos perceber que não importa o que façamos, os outros também possuem suas próprias leis e vontade. E, às vezes, parece que a vontade ou a lei de algumas pessoas se sobressaem às nossas. Logo, fica bastante evidente, quando uma pessoa tenta impor sua lei sobre nós.


Algumas pessoas ou conjuntos de pessoas levam tal imposição das suas próprias leis a um ponto patológico, podemos fazer essa observação nos regimes autoritários, na supremacia racial, nas fakes news, no escravismo, no neoliberalismo, etc.


Um dos intuitos que nós como humanidade nos dedicamos ao estudo da Ética, da Filosofia, da Psicologia, do Direito, da Sociologia, dentre outras, é justamente para preservar a espécie humana de grupos de pessoas ou pessoas que colocam suas próprias leis acima de tudo e de todos.


As leis gerais de um País, por exemplo, a nossa constituição federal Art.5 diz:


“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:[..]”


Portanto, a questão da autonomia não é sobre fazer com que as outras pessoas vivam de acordo com as nossas leis, e sim, compreender que em comum, construiremos leis e viveremos sobre elas, com respeito (ética).


Para Piaget é necessário entender que quando estamos em uma lógica de relação/cooperação com outras pessoas a ética se torna fundamental. Ética no sentido de levar o outro em consideração; sem prejuízo. E é por meio dessa ética que o ser humano coopera e é por meio dessa cooperação que o ser humano se torna autônomo.


Faz-se necessário dizer que o exercício da ética, cooperação, logo da autonomia diz respeito a um controle da consciência. Esse controle da consciência só pode ser feito se entendermos como controlar. E aqui não tem pegadinha “basta” você colocar a sua atenção na consciência. Em outras palavras, basta você voltar a sua atenção para o momento presente e se conectar com o que você está fazendo.


Graças ao trabalho fantástico feito pelo Ouriques, podemos entender que o que temos que gestar, controlar ou governar é, justamente, a nossa mente. A nossa mente é aquilo que cria toda a realidade que estamos inseridos - aqui não se trata de uma instância cujo a localização é possível de ser demarcada, não se trata de um território físico - trata-se de um território mental. E é nesse território mental, onde recebemos e delegamos informações, que precisamos focar a nossa atenção para a realidade que nos cerca. A realidade compartilhada, a realidade cooperativa, a realidade em rede, a realidade onde somos e criamos juntos.


Em seu artigo mais recente “Doutrina do Mel, a condição comunicacional” Ouriques diz: “A condição comunicacional é o lugar-duração em que o ser humano aparece, instaura-se e desaparece como diferença, em conversa com a semelhança.”


Ao meu ver, a autonomia é justamente esse aparecer, instaurar-se e desaparecer como diferença, em conversa com a semelhança. Justamente, pelo fato dela ser intimamente relacionada com a comunicação. E, por isso, a autonomia é não-dual, pois ela fala sobre o Eu e sobre o Tu na mesma palavra, no mesmo sentido tanto público quanto privado. Na ideia de que sou porque somos.


Bibliográfia:




































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